Por
diversos motivos, entre saber da existência dos caminhos coloniais
da Serra do Mar, em 1997, e chegar a percorrer um deles pela primeira vez, dez
anos tive que esperar. No êxtase de ter conhecido o Itupava, diligentemente busquei saber como chegar às outras duas trilhas mencionadas no
guia
Eco Verão, que foi o principal dos informativos turísticos de
outrora, trazedor de tanto fascínio a respeito daquele mundo
remoto que era a floresta atlântica. Sendo descrito apenas
como um “trajeto distinto da rodovia”, o caminho colonial que a originou parecia ser o menos interessante dos 3, pois diante do afã em desbravar aquela parte da serra, já considerava a
própria estrada como objeto de saciedade quase
suficiente. Vê-la
da janela de um ônibus, e isso ter sido quase tão distante como
vê-la por uma TV, foram o bastante para querer pôr o pé no chão novamente.
Duas
referências encontrei, sendo um tracklog impreciso (que hoje concluo
ter sido desenhado à mão), mas que mesmo assim veio a ser útil; e
o relato de alguém que, para conhecer a rota inteira, precisou mais
de uma investida, tal como me aconteceria. O caminho consiste de 6
trechos calçados que intercalam a rodovia, precedidos por outro,
bastante deteriorado, que não se costuma percorrer. São
aproximadamente 8 km de história, descobertas, cascatas e paisagens.
Com uma experiência muito
menor que hoje e sem saber os pontos exatos de início, conseguimos na primeira investida andar só pelos segmentos 2 e 5, sendo o restante pela estrada; entretanto no momento isso já nos satisfez.
A Casa De Pedra
As ruínas da
centenária casa que pertenceu ao preservacionista Johannes Garbers
são parada quase obrigatória para quem desce o caminho. Está
localizada 700m para dentro na via chamada Graciosa Velha,
ou “Trilha” do Alemão, estradinha que liga a Graciosa atual à
Av. D. Pedro II; é a última entrada à direita antes do mirante.
Quem chega de ônibus deve comprar passagem até a localidade Alto da
Serra, para não pagar o valor inteiro até São João ou Morretes; e
atualmente são dois os horários
que saem de Curitiba, 07:45 e 09:00. Há que se cuidar
com alguns dias do ano em que a estrada é fechada para eventos
esportivos, pois embora não transcorram o dia inteiro, causam a
suspensão dessas linhas.
A casa é
mais visitada por estar no ponto de partida das trilhas para o Morro Mãe
Catira, Sete, Polegar e travessia da Farinha Seca. Ao lado da ruína
está a casa do caseiro, que cobra R$ 20,00 pelo estacionamento, mas
sempre franqueou a entrada para pedestres. É
recomendado chegar devagar para não provocar seus numerosos
cachorros, embora nem sempre estejam presentes. A Casa de Pedra em si é um ambiente pitoresco – ao mesmo
tempo sombrio mas acolhedor; com suas frequentes neblinas, e o mato
em volta, ora alto, ora bem roçado. Sob sua lareira se vê um fundo
buraco onde alguma mente rasa veio um dia cavar e depredar para
buscar ouro. Entre as duas partes do terreno corre o Rio Do Corvo,
cuja cachoeira conhecida (mencionada como "Do Riva") está apenas 400m à montante; e nela uma
corda permite subir ao topo; mas o que existe adiante dela já é
outra história. Para baixo, este mesmo rio é cruzado pela
estradinha, e paralelo a ele inicia uma
certa trilha, também interessante.
O
Labirinto Entre A Casa De Pedra E O Recanto Engenheiro Lacerda
Vindo de algum
lugar na direção de Quatro Barras, está pouco visível o
calçamento de pedras construído há mais de 180 anos, que tinha
naquele terreno apenas um local de passagem. A casa simplesmente o
interrompe, dando indício de ter sido edificada posteriormente, e
não há 200 anos como alguns creem. Para o outro lado não se o
distingue, e o que existe é um carreiro na relva baixa até alguns
metros, onde se adentra a densa floresta – desde então tudo
torna-se um complicado labirinto.
Há trilhas para todos os lados, partes muito fechadas, travessias de pequenos charcos, mas também pontos onde se tem a certeza de estar pisando sobre o calçamento original, pela forma aplainada e firme, e pela gramínea típica que recobre aquelas pedras quando não são percorridas. O visitante sente-se como um arqueólogo. Crendo na descrição errada que nos baseou, pensávamos que o correto seria sair na captação de água do mirante (Engenheiro Lacerda), e que o 1º trecho íntegro do calçamento era o que corta a curva seguinte. Mas não; esse pedaço deteriorado do caminho deve apenas levar o visitante de volta para a estrada, se não estiver fechado demais; a fim de que em seguida adentre o verdadeiro 1º trecho bom, no lado oposto da rodovia. Um mapa ao final da página esclarecerá o que verbalmente soa tão complicado
O Primeiro Trecho Íntegro
Este segmento
que conhecemos tardiamente (e de trás para frente) tem sua entrada à
esquerda, aproximadamente 87 metros antes da placa que demarca a
divisa de município, entre Quatro Barras E Morretes. Sem
acostamento, às vezes entre cipós e mato mais alto, somente o
começo é ruim, porque logo se alarga, antes de cruzar um riachinho.
Segue mais ou menos paralelo a ele, até sair adiante do 1º recanto;
perfazendo 371m.
O Segundo Trecho
235m à frente
do mirante, e apenas 30m à frente da saída do segmento anterior, fica a continuidade da trilha, sendo essa parte a mais curta e inequívoca das 6. Ali, como na última, também há
um buraco feito à procura de ouro. Por algum motivo, do começo ao
fim da Graciosa, as teias são até um pouco mais constantes que em
outros caminhos. Não são de espécies perigosas, e na maioria das
vezes as aranhas nem estão presentes, mas se quem anda na frente não
se cuida, pode até tecer uma blusa com tantos fios que acumula.
Em pouco tempo encontra-se novamente a estrada, 280m antes do recanto Rio Cascata. Esse nome se deve à quedinha ali existente, no mesmo riacho que abastece o recanto anterior. Sendo normalmente modesta, impressiona um pouco em dias de cabeça d'água. Para ir do fim do 1º trecho calçado à entrada do 2º, basta atravessar a estrada e dar uns passos à esquerda; sendo ela menos ou mais visível conforme a época.
Olá, você tem o arquivo GPX da trilha? sempre quis fazer essa incursão, com o arquivo seria ótimo. Mas vou tentar sem mesmo...hehe
ResponderExcluirAgradeço se me enviar no johnymach10@gmail.com.
Abraços e boas trilhas.
Essa estrada é maravilhosa,andei no Caminho da Graciosa em 87, com a turma do magistério de Antonina e o pessoal do ITC de Morretes ,parece um lugar mágico.
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